Há muito que se fala de TOURADA.
Há quem adore, e há quem deteste.
Os que adoram regem-se pela tradição, pela memória de um povo...dizem que é cultura! Acham que as tradições são para serem cumpridas, e que a cultura do nosso país passa por aí.
Ainda dizem mais! Dizem que adoram os touros, que eles nasceram para a arena, para a festa brava, para nos deliciarem com uma festa magnifica e tão portuguesa como latina... é para isso que eles existem caso contrário a espécie já teria sido extinta...
Um dia ouvi um toureiro dizer que os touros não sentem o ferro quando é espetado, porque estão num estado de adrenalina tão grande que não sentem dor. Os toureiros adoram os touros, os seus cavalos, as arenas, e toda uma fantasia de cor e lantejoulas, que brilham em contraste com a areia da arena, os aplausos dos aficionados, da corneta que toca, do OLÉ!...Mas eles vivem disso, é a sua profissão. Os seus filhos são ensinados a amar os touros tanto quanto eles. A amar o que lhes é facultado em tenra idade, e pela vida fora não vão conseguir pensar de outra forma... Não vão saber ter outra profissão, nem saber fazer mais nada.
Os touros são criados com tudo o que é bom para eles, são príncipes das lesírias, amados, talves respeitados, e até temidos porque são selvagens, dentro do seu mundo delineado por redes. O mundo que os humanos lhes criaram.
A sua vida magnifica, chega ao fim quando um dia alguém os priva dessa semi liberdade e os leva para um lugar completamente estranho. Serram-lhes as pontas dos chifres, injectam-lhes substancias narcóticas, espicaçam-nos ... enfim são levados para um outro lugar barulhento, e libertados num espaço redondo, ainda mais barulhento, onde um bicho esquisito e atrevido, lhe espeta coisas nas costas e lhes faz jorrar sangue. Ficam furiosos, porque se querem defender, querem voltar para casa.
Quando alguém nos bate ou maltrata, nós também nos defendemos!
É a tradição de um povo latino, a gritar por sangue.
É a cultura de um povo bom e humano, como é o povo português. Este mesmo povo que toma iniciativas de ajudar quem precisa, e se move para lutar contra abandonos, crianças sem lar, idosos maltratados, lei do aborto...
Não, não estou a misturar as coisas, só acho que a tradição ás vezes já não tem razão de ser. Ao longo dos séculos as tradições foram-se alterando. Umas mudaram as regras, outras deixaram de existir porque perderam a graça. Existem outras que nós humanos contestamos, por acharmos que estão desactualizadas e são desumanas (como a lapidação das mulheres), e é assim que o ser humano tem vindo a evoluir ao longo do tempo, e cada vez mais depressa. Caso contrário ainda viveríamos nas cavernas, e caçaríamos para nos alimentarmos. Andariamos á luta por um pedaço de alimento, e ainda não saberíamos pensar. Ponderar o que está certo e o que está errado ( Afinal é isso que nos distingue dos outros animais, ou não?)
Poderia ficar aqui a enumerar um cem número de coisas que evoluíram, mas certamente cada um de nós se lembra de alguma tradição idiota que deixou de existir com o tempo.
Na época medieval, havia torneios com gladiadores que se matavam na arena, e eram aplaudidos com ênfase, eram quase heróis...até serem mortos por outro qualquer mais forte e mais novo.
Soltavam-se felinos nas arenas e alguém era devorado, e a festa ficava ao rubro...
Não me lembro de ninguém a quem estas modalidades desportivas agradem na actualidade, mas a verdade é que elas continuam a existir, só que em vez de gladiadores, existem toureiros e os felinos foram substituídos por touros. Continua a ser a mesma coisa, as regras só mudaram um bocadinho em função do homem.
Não pensem que sou inimiga dos aficionados, ou coisa parecida. Tenho amigos adeptos das touradas, e são pessoas de quem gosto muito, embora não goste desses seus gostos. Uma coisa não tem a ver com a outra, até porque não é com palavras violentas e cara feia que se resolvem as questões que nos desagradam, mas sim com pontos de vista que são ditos e discutidos.
Ás veses é preciso parar para pensar um bocadinho, e meditar sobre aquilo que realmente pensamos acerca de determinada coisa ou assunto, para depois descobrirmos que afinal não estamos assim tão certos daquilo que pensamos.
Eu não posso concordar com aqueles que dizem que amam os seus touros, e depois lhes espetam ferros na garupa. Não acredito que essas mesmas pessoas, espetassem os mesmos ferros nas garupas dos seus cavalos.
Há pessoas que adoram os seus cães e gatos, que os resgatam da rua, dão tudo por eles, e depois adoram ir ver uma "boa tourada" (Eu conheço alguns...felizmente muito poucos). Estas pessoas nunca pararam para pensar realmente o que estão a fazer.
Os ferros ao serem espetados, furam a carne e os pulmões do animal (ele jorra sangue pela boca, não é??) como pode alguem achar que o touro não sente nada????
Há sangue, e dor na arena. como pode alguem gostar desse espectáculo? Onde está a cultura de ver torturar um ser vivo, seja ele qual for?
As lutas de galos foram proíbidas, e as de câes também (embora todos sabemos que continuam ás escondidas), e porquê? Não havia cultura nessa tradição. Estava desactualizada...
Mas há o outro lado, aquele que ninguém fala, mas vai lá ver, e secretamente também aplaude. Aquele lado em que é o touro que vence, pelo menos por instantes. Aqueles momentos em que é o toureiro que sofre brutalmente face a uma investida. Uns morrem...outros não! Mas o publico gosta, aahh se gosta, porque se não gostasse não ia lá. Afinal são estes os momentos que passam nos midia, e são noticia. É maldade humana da mais pura que existe!