quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Uma história

Agora nos canais de TV, temos informação que nunca pensariamos ter bem á poucos anos atrás. Muito se tem falado do "caso Madie", e agora da menina espanhola que também desapareceu. Á umas semanas atrás falou-se, mas pouco, de uma menina que alguém tentou raptar, na zona do grande Porto.

Especula-se muita coisa, e muita tinta tem corrido. Tem-se comentado coisas terriveis, até porque ainda todos nos lembramos muito bem da "pequena Joana", e do que lhe aconteceu...

Como cada cabeça sua sentensa não podemos dar total crédito a tudo o que ouvimos na comunicação social, mas tenho-me vindo a lembrar cada vez mais de um episódio da minha vida que aconteceu à mais de trinta anos, mas sempre ficou muito presente:

Os meus avós viviam num bairro antigo de Lisboa. A casa era já centenária, igual a tantas outras que ainda existem e que as janelas ficam a meio metro do chão da rua.


Tinha mais ou menos cinco ou seis anos, e um dia estava eu sentada no parapeito da janela á espera que alguma menina dali, chegasse para brincar. Estava proibida de sair dali pela minha mãe e avós, que constantemente me diziam que não podia sair daquela rua (que não é grande), que não podia falar com estranhos, e que não podia abrir a porta a ninguem. Como era um bocado (grande) "bicharoca" e não falava mesmo com ninguem não me custava nada cumprir aquelas imposições. Por isso ali estava eu completamente sosinha, sentada no parapeito da janela do quarto da minha bisavó, com as pernas para fora, e os pés quase a tocar o chão da rua. Em casa só estava a minha avó, que andava devagarinho, pois tinha uma tromboflebite em cada perna.

Naquela altura não havia a quantidade de carros que há agora, e aquelas ruas não tinham sido consebidas para essas modernices, por isso são bem estreitas.
Quando um carro entra na rua andando devagar direito a mim, e parando na diagonal e relação ao passeio, fiquei a olhar para ele curiosa. Era branco, e claro que não me lembro da marca. Mas lembro-me do rosto do condutor, e nunca me hei-de esquecer dele. Era de um homem magro e muito claro. Rosto oval e muito carrancudo. Não tirava os olhos de mim, e acho que foi isso que me assustou...

O outro homem que ia ao lado não me lembro do seu rosto, mas foi esse que me acenou com uma caixa de bombons, grande e linda.

-Anda cá, toma... é para ti!

Foi o que ele me disse, mas eu, como bichinho do mato que era, num ápice meti as pernas para dentro de casa e berrei a plenos pulmões pela a minha avó, enquanto corria ao seu encontro. Mas ela andava devagarinho, e quando lá chegámos, apenas havia caída no chão a caixa de bombons...vazia pois então. Do carro e seus ocupantes, nem sombras.

Não sei o que teria acontecido se eu fosse uma menina simpática, e tivesse lá ido...Onde estaria agora? Ou não teria acontecido nada?

Nunca saberei!

Mas sei que tudo isto não foi um sonho ou imaginação de criança. Lembro-me perfeitamente destes momentos, mas não faço deles um pesadelo, só os conto de vez em quando ás minhas filhas, para que elas percebam que nunca se devem aproximar de estranhos se eles as chamarem. O mundo não é uma roseira cheirosa e sem espinhos, pode até ser um lugar muito perigoso se não estivermos alertados, e atentos.

Quis partilhar esta experiência convosco, porque acho importante falarmos destas coisas escondidas no nosso passado. Todos temos a mania de dizer que "certas coisas", só acontecem aos ouros, mas esquecemo-nos que nós somos os outros para as outras pessoas, portanto não estamos livres de nada.

8 comentários:

Joaquim Nobre (JJ©N) disse...

A minha esposa tb teve um caso idêntico quando era criança...
Só que no caso dela...já ia levada pela mão de um individuo, quando os pais deram por isso e foram a tempo de evitar o seu desaparecimento...

E foi há mais de trinta anos atrás...

É preciso estar sempre atento!

Bjs.

Kunta disse...

Olá Pandora!

Pois é mas os tempos, infelizmente, são outros e os meninos e meninas de hoje são menos acompanhados (para não dizer em muitos casos nada acompanhados). Os malfeitores são hoje mais astutos e os pais mais negligentes. Um destes dias presenciei, num grande centro comercial a abarrotar, a entrada de dois pais despreocupados numa loja enquanto o carrinho de bébé (+- 4 meses) ficava cá fora à mercê de tudo e todos.

Infelizmente muitas Madies se seguirão e com pais com recursos financeiros e influência politica infinitamente inferiores...

Beijinhos e lambidelas

Maria Cristina Amorim disse...

Querido JJ, até me arrepiei, porque comigo foi á mais de trinta anos também.
Beijos para ti e para ela.

Querida Kunta, eu não consigo entender estes pais, porque eu sou completamente galinha ferós com as minhas filhas,
Beijos.

Van Dog disse...

Ninguém está livre de nada, é verdade. E isso que te aconteceu já serviu concerteza para prevenir a pequenada...

mulher a dias disse...

Ai que medo! Que sorte, livrou-se de boa, menina!
Boa semana para si.

Troca Letras disse...

Eu tenho dois filhos e isso e uma coisa que me preocupa muito
Os meus olhos estão sempre a olhar para eles
Mas tenho medo muito medo mesmo

Carracinha Linda! disse...

Realmente isto pode acontecer a qualquer pessoa, ninguém está livre de passar por uma situação dessas. Infelizmente mais casos desses acontecerão e penso que parte da culpa pertence ao pais, porque muitas vezes não tomam as devidas precauções e atenções com as crianças.

Beijinhos

a d´almeida nunes disse...

...O tempo entretanto passa e torna a passar e o mundo continua a ser cão, cada vez mais cão (com licença do bicho que não tem culpa nenhuma destas conotações malditas).
Os meus filhos já são de meia-idade (o que é isso? 30? 40?) mas os netos fazem-me pensar com frequência nestes diabólicos fulanos, bandidos que deviam ser condenados às galés até ao resto das suas vidas (voltava-se a construir galés só para este efeito e pronto!).
beijinho
António